Eu sempre achei que algumas experiências de vida poderiam ser vividas apenas por meio do jornalismo. Realmente, em nenhuma outra situação eu estaria, por exemplo, no meio do caos que se tornou Brumadinho depois do rompimento daquela barragem. Até aquele momento, achava que nunca veria nada tão devastador.
Veio a pandemia e outra série de reportagens muito especiais. A essa altura, eu já estava finalizando um doutorado em que pesquisei sobre narrativas, informação, clareza na comunicação. Foi chocante perceber como a desinformação no mundo todo levou milhares de pessoas a negarem a pandemia, as pesquisas científicas, as vacinas e os números alarmantes da covid 19.
Senti que queria investir em novos modelos de comunicação.
Assim, comecei a planejar meus próximos passos para um projeto de trabalho com mais autonomia. Ele é baseado em dois pilares principais: a criação de roteiros para o audiovisual e uma escola de conteúdo para profissionais e empreendedores. Tudo estava no papel, faltava tornar real. Eu não tinha coragem de dar esse último passo.
Vivi dias de muita ansiedade antes de fazer minha transição de carreira e, nesse momento, recebi de uma amiga e grande mentora a seguinte pergunta: “a palavra ansiedade vem de anseio. Qual anseio seu que você não está atendendo?” Eu senti que havia chegado a hora de pedir demissão e tomei a decisão de recomeçar.
Uma frase de Guimarães Rosa, que me acompanhava desde aquela minha primeira reportagem sobre ele, fazia agora todo sentido pra mim:
“Passarinho agachou, o voo está pronto”.