Fiz das histórias a minha profissão

Eu sabia que a minha paixão por histórias me levaria ao jornalismo, mas confesso: não imaginava que cada dia de trabalho seria tão impactante. No início senti medo e aquele frio na barriga: lidar com o imprevisível era encontrar as pessoas sempre numa situação limite das suas vidas. Os primeiros passos dos meus 21 anos de trabalho na TV Globo foram de muitos desafios.

Comecei contando histórias que não escolhi contar, mas aprendi a gostar disso. Cobri cultura, política, acontecimentos do  dia a dia, acumulei momentos inesquecíveis e muito conhecimento.

 

Juliana Perdigao

A primeira curva do caminho

Juliana Perdigao

Eu deveria supor o que a profissão de repórter me reservava, já que no meu primeiro dia de trabalho fui deslocada para uma rebelião onde toda a imprensa passou a madrugada numa cobertura frenética, intensa. Tudo acabou bem para os presos, os reféns e jornalistas, mas ela se tornou a maior rebelião em todos os meus anos de profissão.

Naquele mesmo ano tive que trocar a correria das reportagens factuais, pelo trabalho de apuração cuidadosa e gravações bem mais complexas: fui chamada para um núcleo de reportagens especiais.

O audiovisual: uma incrível linguagem para contar histórias

Como criadores de conteúdo temos a responsabilidade de apurar, levantar fatos e distribuir informação de qualidade. As reportagens especiais foram minha oportunidade de desenvolver a habilidade de lidar com histórias complexas e conseguir contar tudo de maneira simples.  Tomei gosto por elas.

Poucos anos depois, acabei sendo chamada  para ser repórter do Jornal Nacional e vieram muitas outras histórias para contar. Tive a oportunidade de visitar, no Rio de Janeiro, o escritório de Oscar Niemeyer e fazer uma entrevista exclusiva em que ele me contou toda sua história. Depois vieram coberturas políticas, com mais entrevistas especiais: Lula, Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, Dilma Rousseff em momentos que vão estar nos livros de História do Brasil.

Pelas Minas Gerais

No ano seguinte, fui convidada a participar de um programa criado para mostrar o patrimônio, a história e a cultura de Minas Gerais. Por mais de dez anos, fiz a produção de conteúdo, centenas de reportagens e a apresentação  do programa Terra de Minas, que se tornou marca de sucesso. Ele foi exibido em mais de 100 países pela Globo Internacional.

A primeira grande expedição foi para refazer na TV os caminhos de Guimarães Rosa para escrever “Grande Sertão: Veredas “. Depois vieram outras viagens para falar sobre Drummond, Aleijadinho, os artistas do Jequitinhonha, as reservas ambientais, a arte popular. As dezenas de reportagens especiais desses anos são bagagens preciosas que levo comigo.

Juliana perdigao Terra de Minas

O mundo muda a todo instante. Havia chegado a minha hora de mudar também.

Eu sempre achei que algumas experiências de vida poderiam ser vividas apenas por meio do jornalismo. Realmente, em nenhuma outra situação eu estaria, por exemplo, no meio do caos que se tornou Brumadinho depois do rompimento daquela barragem. Até aquele momento, achava que nunca veria nada tão devastador.

Veio a pandemia e outra série de reportagens muito especiais. A essa altura,  eu já estava finalizando um doutorado em que pesquisei sobre narrativas, informação, clareza na comunicação. Foi chocante perceber como a  desinformação no mundo todo levou milhares de pessoas a negarem a pandemia, as pesquisas científicas, as vacinas e os números alarmantes da covid 19.

Senti que queria investir em novos modelos de comunicação.

Assim, comecei a planejar meus próximos passos para um projeto de trabalho com mais autonomia. Ele é baseado em dois pilares principais: a criação de roteiros para o audiovisual e uma escola de conteúdo para profissionais e empreendedores. Tudo estava no papel, faltava tornar real. Eu não tinha coragem de dar esse último passo.

Vivi dias de muita ansiedade  antes de fazer minha transição de carreira e, nesse momento, recebi de uma amiga e grande mentora a seguinte pergunta: “a palavra ansiedade vem de anseio. Qual anseio seu que você não está atendendo?”  Eu senti que havia chegado a hora de pedir demissão e tomei a decisão de recomeçar.

Uma frase de Guimarães Rosa, que me acompanhava desde aquela minha primeira reportagem sobre ele, fazia agora todo sentido pra mim:

“Passarinho agachou, o voo está pronto”.

Princípios que trago do jornalismo:

1

Pesquisa

As informações devem ser precisas e bem apuradas
2

Qualidade da Informação

O conteúdo de qualidade tem linguagem de fácil compreensão, mas deve ser elegante, agradável e com alto valor informativo.
3

Sensibilidade

A agilidade e a sensibilidade são essenciais para perceber quando e como abordar cada assunto, cada pauta.
4

Sua Assinatura

O seu jeito único de contar histórias é a sua assinatura em cada conteúdo e só descobrimos exercitando, leva tempo.
juliana perdigao expedicao

Eu acredito na comunicação que estabelece o diálogo, em que você pode ser você mesmo, verdadeiro, real e com escuta ativa para o outro.

– JULIANA PERDIGÃO